Ele batia firme com a esquerda
Nasceu assim eu não sei
De alguma forma sim
Pois nunca se deu bem com outra mão
Seu nome era bíblico, ele não
João da rua e dos palácios
Gozava a vida como poucos
Fazia o que deveria
Foi ele quem se mandou
Passou a vida em constância
Às voltas com o absurdo
Cegos, surdos e mudos
Tomavam-lhe o coração
Afogou-se nos dias
Luz dissolvida no espaço
Na pasta branca e vazia
No meio da rua às doze
Se automobilizava
Seguindo o rumo de casa
Tudo disputava-lhe a atenção
Mandando-o embora
Convidando-lhe para ficar
João espreguiçou a agonia
II
Tudo se movimenta, tudo se manifesta, floresce o tempo em cada instante.
Parte, João, vá apascentar seus pensamentos em outra terra
Corra em descobrir os segredos
O por quê de a vida escorrer estancando-se
Coma deste pomo e deixe que se mude em víbora, quando há de mudar
Cuida de não sacrificar-te mais nesses altares
Tornar-se ia pedras, dissolveria se em água
Já voou sendo águia. Também era João e nada
Infinitamente pequeno, mas infinito
Grande demais, se aprazia em se deitar na cama
Tornava-se pégasus nos sonhos
Acordava virado
Em um de seus braços tatuara “tudo foi”
Noutro estava escrito “tudo será”
Quando não estranhava seu nome
Era humano, sem saber o que era
Vivia com uma cuia na cabeça
E uma pedra no bolso da camisa
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