sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Acompanhamentos do dia 2

Ele batia firme com a esquerda

Nasceu assim eu não sei

De alguma forma sim

Pois nunca se deu bem com outra mão


Seu nome era bíblico, ele não

João da rua e dos palácios

Gozava a vida como poucos

Fazia o que deveria

Foi ele quem se mandou


Passou a vida em constância

Às voltas com o absurdo

Cegos, surdos e mudos

Tomavam-lhe o coração


Afogou-se nos dias


Luz dissolvida no espaço

Na pasta branca e vazia

No meio da rua às doze

Se automobilizava

Seguindo o rumo de casa


Tudo disputava-lhe a atenção

Mandando-o embora

Convidando-lhe para ficar


João espreguiçou a agonia


II


Tudo se movimenta, tudo se manifesta, floresce o tempo em cada instante.

Parte, João, vá apascentar seus pensamentos em outra terra

Corra em descobrir os segredos

O por quê de a vida escorrer estancando-se

Coma deste pomo e deixe que se mude em víbora, quando há de mudar

Cuida de não sacrificar-te mais nesses altares


Tornar-se ia pedras, dissolveria se em água

Já voou sendo águia. Também era João e nada

Infinitamente pequeno, mas infinito

Grande demais, se aprazia em se deitar na cama

Tornava-se pégasus nos sonhos

Acordava virado


Em um de seus braços tatuara “tudo foi”

Noutro estava escrito “tudo será”

Quando não estranhava seu nome

Era humano, sem saber o que era

Vivia com uma cuia na cabeça

E uma pedra no bolso da camisa

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